Paulo Gekas

Improvisação em música – qual seria a utilidade de desenvolver essa habilidade?

Improvisação em música

A improvisação em música pode ser uma ferramenta tão útil como sua prática em diversas áreas. Trata-se de uma das habilidades criativas humanas mais admiráveis!

Mas, para você músico, quais seriam os benefícios de saber improvisar? Leia aqui e se surpreenda!!

Quando improvisar?

De maneira geral ela aparece quando as situações e problemas exigem certo grau de urgência. As soluções então surgem por uma necessidade e geralmente surpreendem por se diferenciar do convencional, uma vez que, nessas situações, o convencional passa a não ser mais uma alternativa.

Um exemplo clássico foi o que aconteceu com os tripulantes da Apolo. Os problemas e imprevistos que ocorreram na espaçonave da missão fizeram com que as mentes treinadas dos astronautas manifestassem a capacidade de utilizar peças e partes de peças para diferentes fins distintos dos originalmente pensados pelos projetistas.

É essa capacidade de recriar de maneira quase instantânea que podemos chamar de improvisação.

Agora, se para os astronautas da Apolo saber improvisar foi uma questão de vida e mortem, qual seria a utilidade da improvisação aos músicos?

Utilidade da improvisação em música

A habilidade de improvisação em música é provavelmente tão antiga quanto a própria música já que em termos práticos sempre que tocamos estamos improvisando em algum nível. Sim, se transportarmos para o universo musical aquela sábia frase: “ninguém cruza o mesmo rio duas vezes”, podemos dizer que ninguém toca a mesma música do mesmo jeito duas vezes.

Aliás não seria saudável repetir uma interpretação de forma idêntica, pois a cada “novo dia” somos diferentes e portanto, não tocamos exatamente do mesmo jeito…

Improvisar é uma habilidade nata do ser humano, porém, pode ser lapidada em interação com o meio social, interesses e necessidades.

Na música popular atual entendo que essa habilidade deve ser estudada e tratada como uma das mais importantes pois vivemos em uma época que valoriza de maneira intensa a novidade que deve se apresentar em quantidade e qualidade.

E aqui é possível ampliar o conceito, pois entendo que outras áreas como composição, arranjo e interpretação incorporam muitos elementos de improvisação.

Criar frases articuladas, combinar e recombinar padrões rítmicos, estabelecer discursos contrastantes e ao mesmo tempo conectados entre si, pode ser considerado a alma do processo criativo que é a improvisação.

Improvisação para enriquecer o discurso da fala e da música

Com outro enfoque, podemos comparar a improvisação a capacidade de oradores de proferirem discursos públicos. Ou de maneira mais direta ainda podemos comparar com a capacidade de nos comunicar em nossa língua materna ou em qualquer outra língua. E posso dizer que os resultados são muito similares.

Então, esse é um bom teste para saber por onde anda sua capacidade de improvisar música. Ao nos comunicarmos através da fala recorremos a memória de palavras e experiências anteriores, para deixar claro nossa vontade ou para reagir sobre determinado assunto.

Em música essa habilidade pode se traduzir como uma capacidade de criação e variação do discurso musical.  Fazemos isso sempre que criamos uma nova melodia para uma harmonia pré-existente (uma espécie de “tema” original) e desenvolvemos variações a partir dessa criação.

E claro isso precisa ser feito em tempo real como em uma conversa. Raramente paramos uma conversa informal para dizer: “não sei o que dizer sobre esse assunto… vou pesquisar, escrever um discurso e retorno para continuarmos…”

Na maioria das vezes improvisamos… questionamos, divagamos, tentamos imaginar outras possibilidades. É na realidade o ponto alto das capacidades intelectuais, a prova de que estamos agindo e reagindo como seres humanos saudáveis.

Improvisar é por em prática uma das mais nobres habilidades humanas.

Improvisação em música – desenvolver autonomia e subjetividade, ou seja a sua cara!

O fato de podermos expressar nossos sentimentos e ideias foi e continua sendo um norte moral.

No universo da música popular essa ideia se manifesta ao extremo pelos músicos de jazz, que viram nessa habilidade um canal de expressão poderoso.

Não creio que seja coincidência o fato de que a improvisação jazzística tenha surgido em um país que se transformou em uma potência mundial, com feitos que extrapolam as possibilidades criativas, como pisar na lua por exemplo.

E é por isso que há o que hoje podemos chamar de escola do jazz, que tem na improvisação seu principal alvo.

A improvisação para além do jazz

Esse é o ponto fundamental deste post. Para mim o mais importante não é o que o jazz fez com a improvisação, mas sim o que a improvisação fez pelo jazz e o que pode fazer pela sua música e por você.

Como falei anteriormente improvisar é saber recombinar elementos musicais de forma coerente, de maneira instantânea e com expressão artística. E no caso da música popular, em geral, tenho certeza que é uma das ferramentas mais importantes.

É responsável por manter a vivacidade e frescor das músicas que são diariamente lançadas nas plataformas de streaming, consumidas no mundo todo exatamente por essas qualidades.

Improvisar é criar o novo com o frescor de algo “natural e agradável” por ser espontâneo e pessoal, como em uma conversa com seu melhor amigo.

Por onde começar a aperfeiçoar as habilidades de improvisação em música?

O estudo da improvisação deve ser inserido depois de iniciar o aprendizado em música. É fundamental certo acúmulo prévio e  alguma experiência em repertório e rudimentos (escalas e arpejos).

Desta forma esse estudo específico irá alavancar sua musicalidade em conexão com os outros conhecimentos técnicos e de repertório.

No princípio, considero importante um contato com o jazz, para uma vivência de um repertório e das soluções criativas que já foram empregadas. Lembrando que o jazz influenciou e influencia até hoje uma infinidade de gêneros e estilos. Estudar improvisação jazz é como estudar as origens dos gêneros atuais, e perceber de maneira profunda os elementos originais e suas infinitas recombinações, é um trabalho também de análise, e toda a análise já é por si só um ato criativo.

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About Paulo Gekas

Paulo Gekas é violonista, guitarrista, arranjador, compositor, professor e diretor musical, licenciado em música e mestre em educação e cultura pela UDESC.

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